18.4.09

O Sr. Magalhães

Pequeno e magro. De óculos e bigode. Uma tosse de fumador, e poucas palavras, mas de uma extrema educação.
O Sr. Magalhães viveu na redacção, num canto entre um gravador de bobinas, e a sua máquina de escrever.
Tinha uns dedos ágeis na escrita e nas massagens. Foi assim que o conheci.
-Tem uma dor no ombro? Vamos lá ver isso.
E viu. Durante muito tempo.
Procurava tendões, esticava nós, aliviava torcicolos.

Um dia partiu.

Comprámos-lhe um bolo, uma caneta de tinta permanente, forçámos a administração a oferecer-lhe sem resistência a velha máquina de escrever, em vez de a mandar para um poeirento armazém.

O Sr. Magalhães.

Sempre gostei dos mais velhos. E deste em especial que tinha histórias de uma vida, entre iguais, sem pretensões a chefe, sem sotaque, apesar de Castelo Branco lhe estar na alma.

Nunca lhe ouvi uma crítica, apesar de há muitos anos, ele ouvir a histeria jornalística de uma redacção nervosa, como um páteo de crianças com corpo de adulto.
Nunca lhe ouvi uma crítica, apesar de com frequência ouvir um ou outro excesso de linguagem.

Soubemos da sua morte esta semana.
Dois meses depois do funeral.

PS: Caro PC, agradeço-te a inspiração.

3 comentários:

rvr disse...

Acho que todos gostariamos de ser um dia recordados assim, com o Sr. Magalhães.

PC disse...

Um homem como já não há, infelizmente...
É quando sei destas notícias que me sinto irremediavelmente mais pobre como pessoa...

Anónimo disse...

Depois de ter lido isto o Sr. Magalhães deve estar lá no céu, a dar umas cigarradas e a dizer a outros colegas jornalistas, do seu tempo, que o Zeca e o PC eram dois bons rapazes. Eu nunca esquecerei aquele célebre dia do estúdio de Timor, lembras-te Zeca? :) AM