27.1.11

Cavaco sem dar cavaco a ninguém

Cavaco Silva venceu as eleições presidenciais à primeira volta. Não há novidade por aqui, já era esperado. O que não era esperado era aquele discurso de vitória: rancoroso e vingativo.

Sempre ouvi dizer que, tão importante como saber perder, é preciso saber ganhar e acho que o Presidente da República não o soube fazer no passado domingo.

Voltámos a ouvir nessa noite, como em toda a campanha, que o "senhor-sério-mais-sério-não-há" foi alvo de "vil baixeza" só porque lhe perguntaram pelos seus negócios no BPN e da sua casa de férias.

Eu, como ainda não nasci duas vezes, gostava de ter visto esta e outras questões esclarecidas.

O problema do nosso Chefe de Estado é que está mal habituado ou, se quiserem, pouco habituado a responder a perguntas, de adversários políticos ou jornalistas, e isso já não é de agora, já vem dos tempos em que era primeiro-ministro com maioria absoluta.

Do dia eleitoral ficam ainda mais duas notas: a bronca do cartão do cidadão que terá impedido milhares de pessoas de exercer o seu direito de voto, o que é grave e apenas digno de um país do terceiro mundo (já vi ministros demitirem-se por menos); e o elevado número de votos brancos e nulos que, a juntar aos votos em José Manuel Coelho, somam quase 500 mil pessoas (sinal de alerta para todos: partidos, políticos e cidadãos em geral).

22.1.11

Sem sentido

E se, de repente, o Barcelona dispensasse o Messi?

E se deixassem de publicar os livros de Saramago?

E se a câmara de Paris decidisse demolir a Torre Eiffel?

E se Osama bin Laden recebesse o Prémio Nobel da Paz?

Nada disto faria sentido, mas todos os dias somos confrontados com situações injustas.

Estas decisões estapafúrdias assumem uma magnitude superior quando abalam o mundo de pessoas que conhecemos, respeitamos e gostamos.

Eu quero continuar a ver o Messi jogar no Barcelona.

Espero que o Bin Laden tenha um acidente de trabalho, nomeadamente a fabricar uma bomba.

Quero continuar a ler os livros de Saramago.

Um dia espero poder subir os degraus da Torre Eiffel.

E, mais importante, não quero ver os meus amigos tristes.

20.1.11

Charlie´s Angels

O Zeca lançou-me o repto e eu cá estou a responder.

A nossa musa, mensalmente aqui homenageada, faz hoje anos. Não vamos - obviamente - colocar aqui a sua fotografia, mas aproveitamos a ocasião para renovar os nossos votos de Bom Aniversário, Saúde, Sorte e que continue a iluminar-nos.

Como não conseguiria escrever melhor do que fiz no início do nosso blog, aqui fica o post que abriu a rubrica mais linda da blogosfera. Está tudo explicado sobre o que nós pensamos da nossa musa.

Mas, já que estamos num dia especial e num post especial, aproveito a ocasião para uma escolha muito pessoal, cumprindo, ao mesmo tempo, a tradição de ter uma foto de beldades a cada dia 20 nesta morada.

Assim, aqui deixo uma foto com a imagem da série televisiva "Charlie´s Angels", com belas moças e boas actrizes.

Lembrei-me delas porque também eu tenho uns "Anjos de Charlie" (quatro) - que os outros elementos do blog também conhecem bem - que me dão o prazer da sua amizade e companhia em todos os momentos. Achei que era a altura certa para que elas figurassem nesta rubrica, apesar de não com foto.

E que bonitas que elas são, ainda mais que o original "Charlie´s Angels". Gosto muito delas.

O dia

Este é o único dia do ano que reservo para ti, meu amigo Carlos, para dares voz à musa que em nós habita. Porque mereces, porque nunca te esqueces.

16.1.11

Parabéns Xutos

Os Xutos fizeram 32 anos esta semana. Devia ser feriado nacional.

15.1.11

Cão

Quando me pediram para tomar conta de um cão, enquanto os donos iam de férias para um destino paradisíaco, não foi propriamente como se me tivesse saído o Euromilhões e ainda sugeri que abandonassem o animal à sua sorte.

Pensaram que eu estava a brincar e, quando dei por mim, já tinha o bicho a ocupar o meu sofá, deitado na minha almofada, a rebolar-se na minha carpete, a comer a minha comida, a ladrar às 3h00 da manhã quando eu chegava a casa, a acordar-me poucas horas depois para ir à rua, a morder-me os ténis, a atacar vizinhos no elevador...

A minha sagrada rotina diária foi alterada, a minha vida passou a ser em função das necessidades do cão, dos estados de espírito do cão, do chichi do cão, de levar o "sacana manipulador" até à sua árvore preferida.

Mas o pior ainda estava para vir. Quando a semana de inferno finalmente terminou, quando passei a entrar em casa sem ser atacado e a poder dormir descansado, não é que comecei a sentir - isto até custa a admitir - uma espécie de sentimento de hum, digamos, uma certa saudade!?

9.1.11

Campanha

E pronto, lá vamos para mais uma campanha eleitoral, agora para as presidenciais.

O vencedor está anunciado e não me parece que vá haver surpresas na noite de 23 de Janeiro. Certo é que a pré-campanha não augura nada de bom para os próximos 15 dias.

O "caso BPN" está a dominar as atenções mas Cavaco Silva, com a vantagem da liderança nas sondagens, foge a dar explicações como o "diabo da cruz". O candidato pode até não ter cometido uma ilegalidade no sentido criminal do termo; agora, lá que há aqui algumas coisas mal explicadas, lá isso há... e lamentável é que o actual Chefe de Estado passe pelas "gotas da chuva" sem esclarecer como é que comprou e vendeu acções aos respectivos preços, com ou sem ajuda de amigos mais ou menos respeitáveis.

Por outro lado, esta arrogância cavaquista do "eu é que sei", "eu é que tenho experiência", "os portugueses conhecem-me", "não é altura de arriscar", ligada ao "não há ninguém mais sério que eu", "vão ter que nascer duas vezes para serem melhores que eu" e, por isso, "não respondo Às vossas perguntas"... confesso que me enerva solenemente.

A Manuel Alegre, que está atrás nas sondagens, perdeu o debate directo e está a tentar o equilíbrio impossível entre PS e Bloco, calhou-lhe o caso BPP. Com uma gravidade muito menor que a situação de Cavaco também é estranho. Receber dinheiro para uma campanha de publicidade com um texto literário e depois, alegadamente, devolver, mas não saber bem como, é estranho. A campanha não lhe está a correr bem e o mais certo é ter menos votos que há cinco anos, apesar deste vez ter o apoio de dois partidos oficiais.

Fernando Nobre meteu-se nisto, não sei bem porquê. É um médico com um prestígio inatacável, com uma ONG de grande sucesso nas ajudas humanitárias, e agora arrisca-se a perder "apoios" devido a esta incursão. Não me parece que tenha perfil para ser Presidente, mas apesar de tudo, admiro o esforço.

Francisco Lopes, o desconhecido candidato apoioado pelo PCP, está a sair "melhor que a encomenda". Não é "a mosca morta" que parecia e até ganhou o debate televisivo a Cavaco Silva.

Defensor Moura serve para duas coisas: ajudar a dividir o campo que poderia ser de Alegre em exclusividade e atacar Cavaco.

José Manuel Coelho vai ser o "palhaço" da campanha. Dali virão, seguramente, soundbites para animar a malta.

1.1.11

O mundo mudou... (na última década)

É um lugar comum, foi repetido muitas e muitas vezes, mas nunca como na última década, esta expressão teve tanta razão de ser. E, não só o mundo mudou, como mudou muito depressa...

11 de Setembro de 2001... a década não começou aqui, mas esta foi – sem dúvida – a data que marcou o mundo.

Nada mais foi como antes. Cerca de três mil pessoas morreram naquela manhã e as réplicas deste atentado nos Estados Unidos ainda hoje se fazem sentir: a guerra no Afeganistão e no Iraque, os avisos à Coreia do Norte e ao Irão, mas também os atentados concretizados em Bali, Londres ou Madrid e tudo o mais que se relaciona com segurança ou a falta dela. Saddam Hussein já morreu, mas Osama bin Laden continua em parte incerta.

Esta foi também a década da crise financeira (a maior do último século, dizem todos). Países entraram em bancarrota, bancos faliram, empresas fecharam e o desemprego bate recordes. Os “mercados” são agora quem mais ordena, a obsessão do défice nunca nos deixou dormir descansados e nem a nova moeda nos salvou. A culpa tenta morrer solteira: o único atrás das grades é um tal de Bernie Madoff e pior que isso, a saída da crise ainda não está visível...

Um raio de esperança surgiu em 2008 e os Estados Unidos ganharam um Presidente adorado dentro e fora do país. No entanto, Barack Obama esqueceu-se de levar a varinha mágica para a Casa Branca e, afinal, não resolveu todos os problemas do mundo.

George W. Bush tinha deixado a sua marca, mas outros líderes mundiais não passaram incógnitos: Yasser Arafat morreu antes de ver a sua Palestina independente. Mais sorte tiveram Xanana Gusmão e Ramos Horta que, depois de anos e anos de luta, comandam agora um Timor-Leste livre, apesar de muitos avanços e recuos, e até de terem escapado a uma tentativa de assassinato. Já Viktor Yushenko escapou a um estranho caso de envenenamento que o desfigurou, mas já não “sobreviveu” a acusações de corrupção e perdeu o poder na Ucrânia. Quem ainda sobrevive, mas já não governa, é Fidel Castro. Doente, o histórico líder cubano passou o poder ao irmão, mas as sanções internacionais mantêm-se.

Esta foi também a década das mulheres na política: Benazir Butho morreu a lutar pela Democracia no Paquistão, Dilma Rousseff vai ser a próxima (a primeira mulher) inquilina do Palácio do Planalto, no Brasil. Cristina Kirchner já comanda na Argentina, Michele Bachelet fez grande trabalho no Chile; Na Islândia escolheram uma mulher para tirar o país da falência (Jóhanna Sigurðardóttir), mas na Europa é a senhora Merkel quem manda na Alemanha e comanda toda a União Europeia. Por sua vez, no Quirguistão, Roza Otunbayeva não ganhou eleições e chegou ao poder depois de um golpe de estado. Em África, o destaque vai para a Libéria, país liderado por Ellen Johnson-Sirleaf desde 2006. É a primeira mulher a chefiar um país africano e está a conseguir endireitar o Estado devastado pela guerra civil. Na Oceania, a Austrália tem uma mulher como primeira-ministra: Julia Gillard.

Na Ciência confirmou-se que há água na lua e em Marte e novos planetas fora do sistema solar; os vai-vém norte-americanos deixaram de viajar, mas agora até já há turistas no espaço.

Ficámos a “conhecer” a sindroma respiratória aguda ou pneumonia atípica, que surgiu em 2003 e fez cerca de mil mortos, a gripe das aves (que nos ocupou em 2006) e a Gripe A (h1n1) que em 2009 foi epidemia mundial e fez quase 20 mil mortos, incluindo 124 em Portugal.

O que também não deixou o mundo indiferente foram as muitas catástrofes naturais: uma onda gigante fez mais de 250 mil mortos de uma só vez, a terra tremeu muitas vezes matando vários milhares de pessoas... Haiti, Indonésia, China, Paquistão, Irão foram os países mais afectados por estes abalos.

Mas as calamidades não se ficaram por aqui: furacões (o Katrina foi o que deu mais nas “vistas”), cheias, incêndios, deslizamentos de terras... todas fizeram milhares de vítimas e “obrigaram” à mobilização da ajuda internacional. O acidente do “Prestige” e a explosão de uma plataforma petrolífera no Golfo do México causaram os mais graves problemas ambientais de que há registo e nem a “Verdade Inconveniente”, de Al Gore, conseguiu convencer os senhores do mundo a darem mais atenção ao ambiente e a avançarem com medidas concretas que nos defendam a todas contra a camada do ozono ou as alterações climáticas.

Por cá, o “mundo” também mudou e muito... Politicamente, tivemos quase tudo: maioria absoluta, maioria simples, coligações, primeiros-ministros demissionários, primeiros-ministros “transferidos”, eleições antecipadas... António Guterres abandonou o barco depois de uma derrota nas autárquicas para não cair no “pântano”, José Manuel Barroso deixou o Durão em casa e foi para Bruxelas, Santana Lopes ficou com o “bebé” nos braços, mas não resistiu mais de quatro meses e Jorge Sampaio desligou-lhe a “incubadora”, José Sócrates está no poder há seis anos, tem resistido a quase tudo, falta saber se resiste a 2011.

Portugal esteve várias vezes nas “bocas do mundo”, mas nem sempre pelas melhores razões: a 4 de Março de 2001 uma ponte centenária caiu em Entre-os-Rios, 50 pessoas morreram e o ministro Jorge Coelho demitiu-se logo de madrugada;

O processo Casa Pia revelou o maior escândalo de pedofilia de que há memória no país, foram vários anos de avanços e recuos, até que se chegou à sentença e quase todos os arguidos foram condenados; Sem solução continua o desaparecimento da menina inglesa no Algarve. Maddie McCann emocionou todos e bipolarizou opiniões: rapto, assassinato, acidente... continua sem haver certezas.

Estes são apenas dois dos processos mais mediáticos, mas a Justiça revelou casos que ainda estão por decidir (operação furacão, face oculta, caso BPN e tantos outros), isto já para não falar de outros que criaram muita polémica mas não chegaram à barra do tribunal. O mais célebre é o caso Freeport que voltou a juntar as polícias portuguesa e inglesa.

Já o dissemos, a crise bateu forte no nosso país, o desemprego já está nos dois dígitos e a contestação voltou às ruas: as populações juntaram-se contra o encerramento de urgências e maternidades, os professores mobilizaram-se como nunca e as centrais sindicais uniram-se para uma greve geral – a primeira desde 1988.

Entretanto, apesar da crise e das dificuldades, organizámos cimeiras internacionais de grande sucesso, que deixaram Lisboa na história com nome de tratado europeu e de novo conceito estratégico, e, claro, o melhor europeu de futebol de sempre - confirmou a UEFA.

Por falar em desporto, este foi o período em que João Garcia chegou mais alto, Francis Obikwelu foi mais rápido, Nélson Évora chegou mais longe e José Mourinho foi (o) mais forte treinador do mundo... numa década que os “dragões” dominaram e voltaram a conquistar Portugal e a Europa, mas o mundo acabou por se render a Figo e Cristiano Ronaldo.

Esta foi também a década de grandes campeões: Michael Schumacher na Fórmula 1, Lance Armstrong no ciclismo, Roger Federer no ténis, Tiger Woods no golfe, Phil Jackson no basquetebol.

Também na Igreja houve mudanças. Morreu o Papa peregrino, adorado por todos. João Paulo II teve um dos mais longos pontificados, quase 26 anos, e deixou várias marcas, a do diálogo inter-religioso e a luta pela paz foram duas das maiores.

Sucedeu-lhe na Cátedra de Pedro o alemão Joseph Ratzinger, Bento XVI, que com um estilo diferente tem vindo a conquistar o mundo. Prova disso foi a sua visita de quatro dias a Portugal em 2010 que, para o Vaticano, foi a mais impressionante viagem apostólica do seu pontificado. O Papa mantém as linhas mestras do seu antecessor e centra-se na luta contra a laicização. Entretanto, “deixou-se” entrevistar e, entre outras coisas, aceitou a utilização do preservativo em casos especiais, naquela que foi a primeira manifestação pública de um Sumo Pontífice nesse sentido.

O mundo perdeu Madre Teresa de Calcutá, beatificada em 2003, e a Irmã Lúcia, um dos pastorinhos de Fátima.

Mas há coisas que não mudam e a Igreja continua a ser um referencial fundamental em defesa da paz e dos mais desfavorecidos, mesmo em países em que continua a ser perseguida.

Abrimos com um chavão, fechamos com outro: o mundo é agora, efectivamente, uma “aldeira global” e avançou a um ritmo alucinante: quem é que se lembra de como era isto sem internet? Sem Google ou YouTube? Sem as redes sociais? O twitter ou o Facebook? Os telemóveis que fazem (quase) tudo... até telefonar. São poucos os resistentes e serão cada vez menos no futuro.

Como estaremos no final da próxima década? Não sabemos, mas vamos gostar de estar por cá e contá-lo – falta saber em que formato :-).