É um lugar comum, foi repetido muitas e muitas vezes, mas nunca como na última década, esta expressão teve tanta razão de ser. E, não só o mundo mudou, como mudou muito depressa...
11 de Setembro de 2001... a década não começou aqui, mas esta foi – sem dúvida – a data que marcou o mundo.
Nada mais foi como antes. Cerca de três mil pessoas morreram naquela manhã e as réplicas deste atentado nos Estados Unidos ainda hoje se fazem sentir: a guerra no Afeganistão e no Iraque, os avisos à Coreia do Norte e ao Irão, mas também os atentados concretizados em Bali, Londres ou Madrid e tudo o mais que se relaciona com segurança ou a falta dela. Saddam Hussein já morreu, mas Osama bin Laden continua em parte incerta.
Esta foi também a década da crise financeira (a maior do último século, dizem todos). Países entraram em bancarrota, bancos faliram, empresas fecharam e o desemprego bate recordes. Os “mercados” são agora quem mais ordena, a obsessão do défice nunca nos deixou dormir descansados e nem a nova moeda nos salvou. A culpa tenta morrer solteira: o único atrás das grades é um tal de Bernie Madoff e pior que isso, a saída da crise ainda não está visível...
Um raio de esperança surgiu em 2008 e os Estados Unidos ganharam um Presidente adorado dentro e fora do país. No entanto, Barack Obama esqueceu-se de levar a varinha mágica para a Casa Branca e, afinal, não resolveu todos os problemas do mundo.
George W. Bush tinha deixado a sua marca, mas outros líderes mundiais não passaram incógnitos: Yasser Arafat morreu antes de ver a sua Palestina independente. Mais sorte tiveram Xanana Gusmão e Ramos Horta que, depois de anos e anos de luta, comandam agora um Timor-Leste livre, apesar de muitos avanços e recuos, e até de terem escapado a uma tentativa de assassinato. Já Viktor Yushenko escapou a um estranho caso de envenenamento que o desfigurou, mas já não “sobreviveu” a acusações de corrupção e perdeu o poder na Ucrânia. Quem ainda sobrevive, mas já não governa, é Fidel Castro. Doente, o histórico líder cubano passou o poder ao irmão, mas as sanções internacionais mantêm-se.
Esta foi também a década das mulheres na política: Benazir Butho morreu a lutar pela Democracia no Paquistão, Dilma Rousseff vai ser a próxima (a primeira mulher) inquilina do Palácio do Planalto, no Brasil. Cristina Kirchner já comanda na Argentina, Michele Bachelet fez grande trabalho no Chile; Na Islândia escolheram uma mulher para tirar o país da falência (Jóhanna Sigurðardóttir), mas na Europa é a senhora Merkel quem manda na Alemanha e comanda toda a União Europeia. Por sua vez, no Quirguistão, Roza Otunbayeva não ganhou eleições e chegou ao poder depois de um golpe de estado. Em África, o destaque vai para a Libéria, país liderado por Ellen Johnson-Sirleaf desde 2006. É a primeira mulher a chefiar um país africano e está a conseguir endireitar o Estado devastado pela guerra civil. Na Oceania, a Austrália tem uma mulher como primeira-ministra: Julia Gillard.
Na Ciência confirmou-se que há água na lua e em Marte e novos planetas fora do sistema solar; os vai-vém norte-americanos deixaram de viajar, mas agora até já há turistas no espaço.
Ficámos a “conhecer” a sindroma respiratória aguda ou pneumonia atípica, que surgiu em 2003 e fez cerca de mil mortos, a gripe das aves (que nos ocupou em 2006) e a Gripe A (h1n1) que em 2009 foi epidemia mundial e fez quase 20 mil mortos, incluindo 124 em Portugal.
O que também não deixou o mundo indiferente foram as muitas catástrofes naturais: uma onda gigante fez mais de 250 mil mortos de uma só vez, a terra tremeu muitas vezes matando vários milhares de pessoas... Haiti, Indonésia, China, Paquistão, Irão foram os países mais afectados por estes abalos.
Mas as calamidades não se ficaram por aqui: furacões (o Katrina foi o que deu mais nas “vistas”), cheias, incêndios, deslizamentos de terras... todas fizeram milhares de vítimas e “obrigaram” à mobilização da ajuda internacional. O acidente do “Prestige” e a explosão de uma plataforma petrolífera no Golfo do México causaram os mais graves problemas ambientais de que há registo e nem a “Verdade Inconveniente”, de Al Gore, conseguiu convencer os senhores do mundo a darem mais atenção ao ambiente e a avançarem com medidas concretas que nos defendam a todas contra a camada do ozono ou as alterações climáticas.
Por cá, o “mundo” também mudou e muito... Politicamente, tivemos quase tudo: maioria absoluta, maioria simples, coligações, primeiros-ministros demissionários, primeiros-ministros “transferidos”, eleições antecipadas... António Guterres abandonou o barco depois de uma derrota nas autárquicas para não cair no “pântano”, José Manuel Barroso deixou o Durão em casa e foi para Bruxelas, Santana Lopes ficou com o “bebé” nos braços, mas não resistiu mais de quatro meses e Jorge Sampaio desligou-lhe a “incubadora”, José Sócrates está no poder há seis anos, tem resistido a quase tudo, falta saber se resiste a 2011.
Portugal esteve várias vezes nas “bocas do mundo”, mas nem sempre pelas melhores razões: a 4 de Março de 2001 uma ponte centenária caiu em Entre-os-Rios, 50 pessoas morreram e o ministro Jorge Coelho demitiu-se logo de madrugada;
O processo Casa Pia revelou o maior escândalo de pedofilia de que há memória no país, foram vários anos de avanços e recuos, até que se chegou à sentença e quase todos os arguidos foram condenados; Sem solução continua o desaparecimento da menina inglesa no Algarve. Maddie McCann emocionou todos e bipolarizou opiniões: rapto, assassinato, acidente... continua sem haver certezas.
Estes são apenas dois dos processos mais mediáticos, mas a Justiça revelou casos que ainda estão por decidir (operação furacão, face oculta, caso BPN e tantos outros), isto já para não falar de outros que criaram muita polémica mas não chegaram à barra do tribunal. O mais célebre é o caso Freeport que voltou a juntar as polícias portuguesa e inglesa.
Já o dissemos, a crise bateu forte no nosso país, o desemprego já está nos dois dígitos e a contestação voltou às ruas: as populações juntaram-se contra o encerramento de urgências e maternidades, os professores mobilizaram-se como nunca e as centrais sindicais uniram-se para uma greve geral – a primeira desde 1988.
Entretanto, apesar da crise e das dificuldades, organizámos cimeiras internacionais de grande sucesso, que deixaram Lisboa na história com nome de tratado europeu e de novo conceito estratégico, e, claro, o melhor europeu de futebol de sempre - confirmou a UEFA.
Por falar em desporto, este foi o período em que João Garcia chegou mais alto, Francis Obikwelu foi mais rápido, Nélson Évora chegou mais longe e José Mourinho foi (o) mais forte treinador do mundo... numa década que os “dragões” dominaram e voltaram a conquistar Portugal e a Europa, mas o mundo acabou por se render a Figo e Cristiano Ronaldo.
Esta foi também a década de grandes campeões: Michael Schumacher na Fórmula 1, Lance Armstrong no ciclismo, Roger Federer no ténis, Tiger Woods no golfe, Phil Jackson no basquetebol.
Também na Igreja houve mudanças. Morreu o Papa peregrino, adorado por todos. João Paulo II teve um dos mais longos pontificados, quase 26 anos, e deixou várias marcas, a do diálogo inter-religioso e a luta pela paz foram duas das maiores.
Sucedeu-lhe na Cátedra de Pedro o alemão Joseph Ratzinger, Bento XVI, que com um estilo diferente tem vindo a conquistar o mundo. Prova disso foi a sua visita de quatro dias a Portugal em 2010 que, para o Vaticano, foi a mais impressionante viagem apostólica do seu pontificado. O Papa mantém as linhas mestras do seu antecessor e centra-se na luta contra a laicização. Entretanto, “deixou-se” entrevistar e, entre outras coisas, aceitou a utilização do preservativo em casos especiais, naquela que foi a primeira manifestação pública de um Sumo Pontífice nesse sentido.
O mundo perdeu Madre Teresa de Calcutá, beatificada em 2003, e a Irmã Lúcia, um dos pastorinhos de Fátima.
Mas há coisas que não mudam e a Igreja continua a ser um referencial fundamental em defesa da paz e dos mais desfavorecidos, mesmo em países em que continua a ser perseguida.
Abrimos com um chavão, fechamos com outro: o mundo é agora, efectivamente, uma “aldeira global” e avançou a um ritmo alucinante: quem é que se lembra de como era isto sem internet? Sem Google ou YouTube? Sem as redes sociais? O twitter ou o Facebook? Os telemóveis que fazem (quase) tudo... até telefonar. São poucos os resistentes e serão cada vez menos no futuro.
Como estaremos no final da próxima década? Não sabemos, mas vamos gostar de estar por cá e contá-lo – falta saber em que formato :-).
1.1.11
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Ainda bem que tiraste o texto da gaveta.
Foi uma década louca e passou num instante.
;-)
Foi o que se pode arranjar
Enviar um comentário