6.7.07

Casa arrombada...

Já tive que ir duas vezes a uma Junta Médica. A primeira vez, no 12º ano, para saber se podia concorrer à Universidade pelo "contingente de deficiente" e, a segunda, alguns anos mais tarde, para que fosse avaliado o meu "grau de incapacidade" e, assim, pudesse "beneficiar" de redução de impostos.

No primeiro caso "chumbei". Não fui considerado pelos doutores suficientemente deficiente para entrar pelo contingente especial... acabei numa privada porque a média de entrada no ensino público nesse ano era acima de 18 valores.

No segundo caso a "coisa" foi mais "engraçada": fui à consulta, três doutores, o meu processo em cima da mesa, duas ou três perguntas genéricas e... caso encerrado. Veredicto: 65% de incapacidade.

"Boa, é bom para si. Agora só paga Segurança Social, não paga IRS", disse-me alguém. Eu bem dispensava tal sorte, mas enfim...

O curioso é que os senhores (não sei se doutores no sentido clinico do termo) nem me tocaram, não me pediram para andar, não me fizeram nenhuma pergunta sobre as minhas eventuais dificuldades, nada. A única questão foi se eu tinha carta ou se a estava a tirar só porque, percebi depois, isso alterava o artigo que tinham que invocar na justificação.

Voltei a lembrar-me disto depois de se ter sabido ontem que os Ministérios das Finanças e da Saúde convidaram a Ordem dos Médicos a dar sugestões sobre formas de melhorar o actual modelo das juntas médicas da Caixa Geral de Aposentações (CGA).

A polémica estalou depois de ter sido recusada a aposentação antecipada a dois professores, um com cancro na traqueia e outra com leucemia. Os dois docentes faleceram entretanto.

As decisões do gabinete das juntas médicas, que seguiu para a CGA, foram tomadas depois de relatórios do IPO que confirmava que as doenças estavam em remissão, o que parece ter sido suficiente para que os professores não fossem considerados "totalmente incapazes de trabalhar".

Parece-me extraordinário que se tenha que levar à letra estas declarações porque, realmente, a ser assim, só mesmo um morto pode ser dado como "inapto" para trabalhar.

Não sei se o senhor coordenador do gabinete é médico, não sei se as juntas são constituidas só por médicos... o que sei é que estas duas decisões foram, no mínimo, de uma insensibilidade vergonhosa.

Espero, sinceramente, que se melhorem estes processos para que se evitem casos destes.

1 comentário:

Anónimo disse...

Viva camarada. Ainda te espantas? Também aconteceu à minha mãe.... Se certos doutores tivessem noção do que é viver de perto uma doença deste tipo, o sofrimento da pessoa doente e a carga psicológica que está em cima dos familiares....
E depois... a ampla tristeza de um ente querido se ir embora, mas o grande alívio de dizer: "O sofrimento acabou..."
Estamos em Portugal, não estamos?

Maluco do Futebol